sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Posso entrar ?
É que me perdi no caminho e lá fora está frio demais, estava buscando o brilho de uma estrela qualquer que pudesse iluminar o escuro desses dias que parecem noite, se encontrasse uma estrela cadente talvez me trouxesse alguns desejos, mas aqui a noite demora dias pra chegar. Ouvi uma canção durante o caminho, não consegui identificar, mais sei que a conheço, era uma voz tão doce, que me fez adormecer, sonhei com um rosto, uma beleza delicadamente assustadora, quando despertei, senti ventos no coração, e batimentos nos ouvidos, apertei os olhos uns 3 longos minutos, e assim que abri, vi flores por todo lado, um dia cinzento com flores muito coloridas, é meio estranho mais acho que vi fadas e gnomos e lindas borboletas brincando. Eles não se assustaram com minha presença e nem eu com a deles, parecia que já nos conhecíamos a décadas, ouvia singelos sininhos por todos os lados, levantei para continuar e percebi que não sabia onde estava, uma das borboletas mais lindas que já vi na vida, perguntou-me se queria ajuda, respondi que sim, e ela esteve comigo em boa parte do caminho, me divertindo e contando muito sobre o seu mundo encantador, mais eu tinha que atravessar um bosque, do qual ela não poderia passar, por um encanto feito a milhares de anos atrás, foi ruim despedir-me dela, não queria deixá-la, queria que estivesse sempre comigo, era uma sensação de paz, constante felicidade e eu não sentia medo ao seu lado, ela sobrevoou sobre minha cabeça, se chacoalhou deixando uns pozinhos dourados bem brilhantes caírem sobre mim, me deu um beijo na ponta do nariz e voou. Senti-me tão vazia, gostaria de ter continuado todo o caminho com ela, e agora sinto medo, minhas mãos estavam tão geladas e mal sentia meu rosto, pensei até que estivesse sendo petrificada, adormeci novamente, sonhei com uma casa como a sua, mais tinha um lago na frente, e a porta tinha listras de zebras e eram azul e laranja com lantejoulas pratas, acho que memorizei o caminho do sonho e quando acordei, segui até aqui. Ei, agora eu posso entrar ? Me tira desse frio, tenho tanta sede, tanta fome, tanto frio, e gostaria tanto de poder me esquentar um pouco em frente a sua lareira, espera, você tem uma lareira ? A gente podia sentar conversar por horas, você poderia me contar histórias, tomarmos chocolate quente, ou alguma coisa que faça cócegas no céu da boca. Obrigada por ceder sua casa para uma estranha, pálida, despenteada, fria, faminta e mal vestida menina desconhecida e cheia de pozinhos dourados.
Esse chocolate quente é tão gostoso, aqui é tão confortante e acolhedor que não dá vontade de ir embora, e esse fogo que me aquece mesmo minhas mãos ainda estando completamente geladas é tão convidativo, viciante eu diria. Espera, você tem a beleza delicadamente assustadora dos meus sonhos, nossa, estou tão sonolenta, posso me deitar no seu colo ? Agora você pode ficar mexendo nos meus cabelos, porque eu adoro isso, vou criar asas pra voar um pouco mais, afinal, meus sonhos se tornam reais, já é noite ? mas, como pode ser noite, se ainda não vi estrelas ?


Calyne Toledo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ardente

Dizem que ouvir atrás de portas é falta de educação, então, ela foi mal educada em um sábado, as 17:25 da tarde, de um sol que ainda pegava fogo, e ao escutar o que a mente já processava inconsientemente, mas não queria acreditar, sentiu o sol entrar dentro de casa, bem em cima dela, queimando as maçãs de seu rosto, derrentendo as informações recebidas e tomando-a de uma raiva imensuravel. Tentou já sabendo, tapar o sol com a peneira, mas percebeu que nada funciona contra a natureza, ele de certa forma, saiu ganhando, deixou para ela seu legado: com ele, nunca mais tentar . Ele apenas substituiu uma peça do jogo ou seja lá que nome ele dê para isso que faz, ela tem pena da mais uma boneca de pano que ele manuseia com facilidade, da sua lista de bonecas de corações dilacerados, de seu riso torto de prazer, aquele fajuto Don Juan. Claro que ela foi uma boneca de pano nas mãos do fajuto Dom Juan, claro que ela ouvia canções que saiam de sua boca, claro que ele fez mil juras de amor, claro que o Dom Juan disse que o beijo dela era o melhor... é claro, o que ele não sabe, é que ela nunca acreditou.

Calyne Toledo

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


Como fazer quando nós mesmos caímos em contradição ? mas da mesma forma continuamos pensando e achando o mesmo de antes de cair ? O que adianta ainda continuar olhando pra parede e ainda sim não conseguir enxergar resquícios de tinta ? do que adianta ter mil moedas de ouro e você não querer nenhuma ? O que se diz nunca garante se é o que se sente, resposta de um susto, um momento nostálgico que deturpou meus sentidos, e agora me sinto incapaz, de querer saber apenas, o que estou sentindo. E esse momento tem um outro cheiro e sabor também, só não sei definir, só não sei ainda se quero andar o mesmo caminho de pedras ou flores, só não sei se quero fechar meus olhos e te deixar segurar minhas mãos, sem temer .



Calyne Toledo